Percepções #005 – Crer sem ver
"Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis.
Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.
E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela.
Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais."
Gênesis 3:4-7
Aquele fruto deveria ser uma delícia. Se não o fosse, Eva não teria dado a Adão.
Eu imagino que seja uma espécie de manga. Adoro manga. E não acho que tenha sido nada mais do que isso: um delicioso fruto.
Somos sempre levados a crer que nossos atos finais é que são o grande problema, e que resolvendo estes atos finais tudo está certo. Eu já acredito que as coisas são mais profundas do que essa visão superficial das coisas.
Eva poderia ter dito naquele momento “Sai daqui, sua serpente maldita!” e ido pra casa, sem comer o fruto. Mas (permita-se imaginar comigo) e se aquelas palavras da serpente já tivessem atingido o seu coração? Quando ela colocasse sua cabeça no seu travesseiro de folhas, talvez ficasse pensando naquele fruto. Talvez sonhasse com aquele fruto. No outro dia, talvez fosse regar aquela árvore. Até o dia em que, sem conseguir resistir, comeria o fruto. Tudo seria apenas uma questão de tempo.
Aquela serpente atacou Eva no ponto principal, naquilo que era base do relacionamento dela com Deus, no que ela tinha de mais precioso: a serpente atacou sua fé.
Eva não tinha nenhuma visão do que aconteceria se comesse. Quando Deus deu a ordem de não a comerem, em outras palavras, Ele disse: “Tenham fé. Acreditem no que eu digo. Eu sou o Pai de vocês, me obedeçam, eu sei o que é melhor pra vocês. Confiem em mim.” Mas bastou uma segunda opção, apresentada pela serpente, pra que a humanidade mudasse de ideia. Afinal, a versão da serpente era muito mais tentadora: Conhecer, saber, experimentar... ver!
Nós somos assim, nós sempre queremos ter o controle de tudo. Temos dificuldade de ir quando Ele diz “vá por aqui” quando nossos olhos nos dizem que outros caminhos são mais atraentes e nos parecem melhores. Temos dificuldade de fazer quando Ele diz “faça isso” quando nossos olhos nos dizem que outras escolhas são mais agradáveis e parecem que vão funcionar melhor.
Eva quis isso. Adão quis isso. Ver com os próprios olhos, conhecer, escolher. Foi como se dissessem: “Deus, não precisamos mais confiar em ti, conseguimos seguir por nós mesmos”.
Comer o fruto não foi nada, foi apenas a consequência do real problema: perder a fé, pois a fé é a certeza do que se espera e a prova de algo que você não vê.
Ter fé não é se alienar. Ter fé não é não se encarar. Ter fé é confiar que existe alguém que deseja o seu melhor e por isso te diz por onde andar. Ter fé é abrir os olhos da alma e enxergar, com tais olhos, que a visão que temos de vida e de mundo é limitada, falha, e que fechar os olhos e apenas seguir a voz de Deus sempre será o melhor jeito de caminhar.
Meu convite é: Escute a voz de Deus, mesmo que você não consiga enxergar onde ele pretende te levar. Confiar na sua própria sabedoria e tentar caminhar, não por fé, mas por vista, pode te levar a cometer um grave erro e você pode não gostar do que vai ver.